quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma bicicleta e uma história de superação


Quem trabalha com jornalismo sabe, diariamente nos deparamos com diversos fatos. Vai desde mortes, politica, denúncias, conquistas, entrega de prêmios, atividades, artesanatos, saúde, histórias de vida, de luta, de conquista e de superação. E uma dessas que acompanhei resolvi dividir e contar aqui.
Estava trabalhando, dia de fechamento de edição, para quem sabe o que é isso, sabe da correria e do estress.
Enfim, me deslocava da minha cidade para uma cidade vizinha, fazer cobertura de um pequeno evento. No caminho, na rodovia, uma pessoa me chamou a atenção, até diminui a velocidade, um carinho desses de coletar material reciclavel sabe?, estava sendo puxado por uma bicicleta, nessa bicicleta,um homem, mas não um homem como qualquer. Era um homem que pilotava a bicicleta com apenas um braço.
Pensei, bah seria uma reportagem, mas eu tinha hora marcada e precisava seguir.
Na volta do meu compromisso, já tinha até esquecido daquele homem que puxava o carrinho com a bicicleta, de repente, olho pra frente aquele monte de ferro, papel e plástico, era ele ali de novo na minha frente. Pensei mais uma vez, é como se fosse um sinal, é minha matéria da semana.
Fiz o retorno na rodovia ali mesmo, passei por ele mas não tinha onde estacionar, estava tarde e achei melhor retornar a redação. Aí, quando vi um refugio mais uma vez pensei, não, eu sou jornalista, é meu papel, eu vou fazer essa matéria, preciso escrever isso.
Parei no refúgio e esperei enquanto ele calmamente e com todo esforço empurrava a bicicleta moro a cima com apenas o braço direito. Parecia que tinha que ir lá ajudar, mas aguardei.
Quando ele chegou conversei com ele e na hora topou contar um pouco de sua história. Um homem simples, mas de muita vontade e coragem de seguir a vida mesmo com sua limitaçao.
Enfrentar uma limitação física e continuar lutando por uma vida melhor, vencendo a cada dia obstáculos que a limitação impõe não é uma tarefa tão simples, requer força de vontade e coragem. Segundo dados do IBGE de 2010, no Brasil, 14,5% da população tem algum tipo de deficiência, em torno de 24,5 milhões de pessoas. Muitos daqueles que tem limitações físicas são discriminados pela sociedade, e desmotivados pela sua própria condição, então se desanimam diante das dificuldades que suas limitações físicas impõem. Outras criam ainda mais coragem de continuar lutando para enfrentar a limitação e superar as dificuldades. Reinaldo Antonio Mahl, 36 anos, é uma das histórias de superação de quem luta para vencer seus limites. Com apenas um braço, ele chama a atenção de quem passa pelas ruas do centro de São Miguel do Oeste e rodovias próximas à cidade, não pela sua limitação, mas pela vontade de superação. Com apenas o braço direito, ele trabalha todos os dias coletando materiais recicláveis com uma bicicleta e um carrinho para armazenar os recicláveis.
Há seis anos e meio em um acidente de trabalho, Mahl perdeu o braço esquerdo. Ele relata que estava cortando madeira com uma motosserra, quando se desequilibrou, e o equipamento caiu sobre o braço, cortando o membro acima do cotovelo. “Não foi fácil, pra quem tinha os dois braços, ter que se acostumar depois só com um. Mas tem que ir se virando e ter vontade de continuar a lutar”, afirma. Segundo ele logo após o acidente a família o ajudava com os curativos, mas depois foi se adaptando e aprendendo a viver apenas com o braço direito.
Mahl que tinha emprego e vivia com a família no interior, depois do acidente ficou sem emprego. Há poucos anos mora na cidade de São Miguel do Oeste com a família de sua irmã. Aos poucos, após o acidente, Reinaldo foi percebendo que podia ajudar na renda da família, coletando materiais para reciclagem com uma bicicleta e um carrinho. A partir daquele momento, a bicicleta passou a ser seu principal objeto de trabalho. Com sua bicicleta acoplada a um carrinho, percorre de 50 a 60 km por dia e carrega até 150 kg de materiais recicláveis no carrinho. “Teve dia que meu marcador apontou 100 km que andei. Tem gente que nem acredita, mas anda aqui e ali, logo soma”, salienta. Mahl começa a trabalhar pela manhã cedo e retorna para casa quando já está escuro. Segundo ele tem dias que chega a ir até Descanso para buscar materiais recicláveis. “É um pouco perigoso andar na rodovia, mas só precisa se cuidar que ta tudo bem”, reconhece.
Quando não consegue pedalar, em aclives, Reinaldo desce da bicicleta e a empurra a apenas com a mão direita dividindo espaço com os veículos que passam pelas ruas. Segundo ele quando chega em casa final do dia o cansaço é grande pois trabalha o dia inteiro, parando só para almoçar e dormir à noite, já que no dia seguinte a rotina continua. “Tudo que a gente passa nessa vida, tem que ter interesse e vontade de continuar lutando. Tem gente que diz que é sofrido, emprego é difícil eu conseguir assim, então me viro da forma que posso para me sustentar”, menciona Mahl.
Com as dificuldades que Mahl enfrentou, com a perda do braço esquerdo, afirma que prendeu muito. Para superar a limitação física, a falta de emprego, ele conta que foi preciso e ainda é preciso ter todos os dias muita vontade e coragem para continuar. “Parado a gente não ganha nada, vai só se desanimar, eu tenho vontade e não fico parado porque só tenho um braço, a vida continua”, salienta.


Entrevista feita, anotações no papel, me despedi de Reinaldo e ele se foi pelo asfalto....


Final do dia, quando ei já estava no horário de lazer, depois de um dia cheio de fechamento de edição, resolvi fazer minha caminhada.
Passava das 19:00, enquanto eu e uma amiga caminhavamos. Nossa conversa se tratada da matéria sobre o homem da bicicleta. Nem acreditei quando olhei pra frente, era ele ali, trabalhando ainda aquela hora.
Já estava escuro, mas ele continuava na mesma vontade e ritmo da manhã quando encontrei ele...Devia estar voltando pra casa.

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