DIA DO TRABALHO
No Dia Mundial
do Trabalho, comemora-se a conquista dos trabalhadores que reivindicaram em
1886 por melhorias e também ressalta a importância de antigas e novas
profissões que surgem conforme o avanço das tecnologias
Débora Ceccon
Dia 01 de maio comemora-se o Dia Mundial
do Trabalho. A data serve para marcar o dia daqueles que diariamente deixam seu
lar para exercer uma profissão que escolheram para desempenhar. A História do
Dia do Trabalho foi marcada pelo ano de 1886 na industrializada cidade de
Chicago, Estados Unidos. Neste dia milhares de trabalhadores foram às ruas
reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de
trabalho de 13h para 8h diárias. Neste mesmo dia ocorreu nos Estados Unidos uma
grande greve geral dos trabalhadores. Após a paralisação conflitos entre
trabalhadores e policiais resultou em mortes, e para homenagear os
trabalhadores que morreram a fim de reivindicar por melhores condições de trabalho,
foi instituído o Dia Mundial do Trabalho.
Nesta data além de ressaltar aqueles que
marcaram a história, serve para valorizar todo o trabalhador indiferente da
função que exerce. De acordo com necessidades da sociedade, com a evolução do
conhecimento que chega cada vez mais rapidamente e com o avanço da tecnologia,
aos poucos vão surgindo novas profissões. Neste contexto algumas profissões vão
perdendo seu espaço no tempo, porém ainda é possível encontrar quem exerça seu
trabalho mesmo que ele seja considerado arcaico.
É raro encontrar atualmente jovens
dispostos a exercer tais profissões, porém ainda é possível encontrar quem
ainda não desistiu da função e continua trabalhando como telefonista, ferreiro,
sapateiro, alfaiate e barbeiro. Alguns começaram a atividade por opção, outros
deram continuidade ao trabalho da família. Mas o certo é que apesar de serem
profissões que resistiram ao tempo por serem antigas e avessas a algumas
tecnologias, elas continuam sendo essenciais para muitos que ainda procuram
esses profissionais.
OS
IRMÃOS FERREIROS QUE SEGUIRAM A PROFISSÃO DO PAI
Os irmãos Maximiliano, 29 anos e Zaneti
Ciceri 43 anos são filhos do Seu Heitor Ciceri de 67 anos de São Miguel do
Oeste. Os dois desde sua infância começaram a trabalhar na ferraria de seu
Ciceri primeiro para ajudar ao pai, mas quando adultos a ajuda se tornou
profissão dos dois. Os outros quatros irmãos buscaram outras profissões e apenas
os dois se dedicaram à Ferraria Ciceri. “Tem coisas que a indústria
automatizada não faz, ou até faz, mas não agüenta tanto quanto as ferramentas
que a gente faz. Tem coisas que só nós fazemos e tem procura de toda a região
até do Paraná”, salienta Zaneti.
Segundo os irmãos a Ferraria trabalha desde
1991 na Rua Willy Barth em São Miguel do Oeste. Porém o pai da dupla já atua na
área há mais de 48 anos. “A gente não pode se queixar, o que temos saiu daqui,
só que é um trabalho muito sofrido e judiado”, observa Maximiliano. Segundo ele
outro problema é fazer cobrança dos clientes, pois muitos não enxergam a
ferraria como uma empresa e sim a comparam com antigas ferrarias e assim
atrasam com o pagamento.
Apesar das dificuldades do oficio, os
irmãos salientam que ainda é rentável o trabalho na ferraria. Eles afirmam que
em media cada um recebe até R$ 2 mil ao mês. “Trabalhar com ferraria ainda está
valendo a pena, tanto pela liberdade que o local de trabalho permite quanto ao
rendimento mensal”, diz Zaneti.
SEMPRE
TEM UM BOM SAPATEIRO PARA UM SAPATO VELHO
O sapato deixou de ser um artigo de primeira
necessidade, utilizado apenas para proteger os pés. Atualmente ele representa
um estilo, uma tendência de moda e até um fetiche. Mas mesmo com toda a
tecnologia empregada nas grandes indústrias de calçados nacionais e, uma
infinidade de modelos que seguem as tendências mundiais, o hábito de levar os
calçados usados ao sapateiro resiste a tudo isso. Ao invés de comprar sapatos
ou sandálias novas, algumas pessoas preferem recuperar os pares já surrados,
economizando dinheiro e, na maioria das vezes, os clientes ficam satisfeitos
com o resultado.
Um dos poucos sapateiros que resiste ao tempo
e continua atuando na profissão há 35 anos em São Miguel do Oeste é José Mario
Agustini de 63 anos, da Sapataria Agustini. Tudo começou em 1975 na cidade de
Descanso. Antes trabalhava na agricultura, porém conhecia uma família que tinha
uma sapataria a qual ele muito visitava, até que um dia o proprietário da
sapataria a vendeu à Agustini. “Dizem que a profissão de sapateiro está
extinta, mas para quem continua trabalhando sempre tem trabalho”, observa ele.
No dia a dia a família do sapateiro
entra em ação para ajudá-lo principalmente em consertos de calçados. A esposa e
filhos ajudam em dias em que o movimento é maior. No passado Agustini conta que
trabalhou inclusive na fabricação de calçados, mas atualmente tal atividade não
tem mais tanta procura quanto a reforma de calçados. Segundo ele em dias de
maior movimento chega a fazer conserto de até 30 calçados. Agustini diz que não
sabe responder se vale a pena trabalhar como sapateiro, porém salienta que com
tal profissão conseguiu manter sua família por muitos anos, e não pretende
deixar de trabalhar enquanto o físico e a saúde permitirem. A renda mensal que
Agustini consegue atingir com a sapataria, segundo ele é de quatro salários mensais.
Segundo ele no futuro alguém deve
continuar cuidando de sua sapataria. As vezes os filhos dele ajudam na
sapataria, porém nenhum deles optou por seguir a profissão do pai. “Se um dia
eu morrer acho que a sapataria morre junto”, finaliza.
BARBEARIA
DO SEU PACHECO
Mesmo perdendo o espaço para grandes e
modernos salões de beleza, os Barbeiros ainda contam com poucos mais fiéis
clientes. Seu João Querobin Pacheco de 72 anos, trabalha há 46 anos como
barbeiro. Segundo ele escolheu tal profissão, pois desde criança tinha o sonho
de trabalhar com barbearia. Ele conta que quando criança observava um tio que
já trabalhava na função. As lembranças de Pacheco lembram que no começo sem um
curso foi difícil e ainda relata que o primeiro cabelo que cortou foi de um
Indígena. Ele recorda ainda que o primeiro cabelo que cortou foi de um Índio.
Com o passar do tempo, Seu Pacheco comprou
uma barbearia usada, e aos poucos foi aprendendo a rotina de barbearia. “Eu
tenho clientela fixa, sempre disse que minha clientela quando eu estava numa
pior estavam comigo e quando eu estava numa boa também sempre estiveram comigo”,
menciona. Ele ressalta que inclusive já teve clientes de quatro gerações, avô,
pai, filho e neto, e afirma que é gratificante e a cada dia gosta mais de sua
profissão.
Apesar
de estar há doze anos que estou aposentado, nunca pensou em desistir da
profissão. Contudo ele diz que procura alguém para substituí-lo no futuro, mas
afirma que é difícil encontrar alguém atualmente com interesse de ser barbeiro.
“Até que Deu me der saúde eu vou trabalhar. É uma profissão muito necessária,
mas é muito difícil achar alguém pra me substituir, há anos procuro um jovem
pra aprender comigo e me substituir, porque um dia eu tenho que parar”, observa.
Pacheco além de ser apaixonado pela
profissão salienta que financeiramente é uma profissão razoável. “Dá pra viver
bem. Lembro sempre do que um amigo me falou: “Não pense que como barbeiro você
vai ficar rico, mas você vai viver bem se trabalhar e caprichar”, relata.
Segundo ele há alguns anos atrás quando fez uma promoção durante quatro meses
cortou 1.645 cortes de cabelos. Ele calcula que o rendimento mensal de um
barbeiro chega até R$ 2.500,00.
MÃOS QUE COSTURAM A ELEGÂNCIA
Buscar roupas elegantes e confortáveis é
fácil, é só procurar uma loja e comprar. Mas usar uma roupa elegante, com
caimento perfeito com as medidas do corpo, só se for uma peça feita pelas mãos
de um alfaiate, principalmente quando falamos de ternos, ou trajes masculinos.
Ivanir Dalavequia de São Miguel do Oeste, 60 anos, trabalha com linhas, tesoura
e máquina de costura há 44 anos, um dos poucos alfaiates que ainda resiste ao
tempo. “Para ser um alfaiate é preciso ser muito detalhista, gostar da
profissão e ter muita atenção”, lista Dalavequia.
Ele salienta que para aprender a função,
precisou de um ano. Na época um primo o ensinou a costurar. Segundo ele ainda
poucos o procuram para fazer trajes completos, a maioria buscam seus serviços
para consertos e ajustes em roupas. Segundo
ele a peça mais rápida para costurar são as camisas, um terno completo precisa
de três dias para ficar pronto e uma semana para ser finalizado.
“O acabamento da confecção melhorou
muito, para a gente igualar tem que ser muito caprichoso. A roupa de alfaiataria
é uma roupa exclusiva e ainda tem um bom caimento, pois são tiradas as medidas
do cliente”, frisa o alfaiate. Segundo ele atualmente é possível ter uma renda
de dois salários como alfaiate. Dalavequia diz que mesmo que a profissão tenha
decaído, continua na atividade, pois ainda há mercado, mesmo que para reformas
e ajustes, mas reconhece que a maioria prefere a facilidade de comprar roupas
prontas.
A
TRADIÇÃO DA CASA DO FUMO E ERVA
Para quem imagina que as antigas Casas
de Fumo, que comercializam fumo de corda, fumo picado e erva mate é coisa do
passado, engana-se. Em São Miguel do Oeste, uma das poucas na região que ainda
permanecem em atividade possui clientela tradicional e fiel. Pedro Strapasson
de 50 anos começou com a atividade há 14 anos. Na época com loja em Iporã do
Oeste, Maravilha, Paraíso e São Miguel do Oeste. De lá para cá apenas a de São
Miguel do Oeste permanece.
Segundo ele as vendas continuam na mesma
média que na época em que iniciou a atividade. Ele lista que o que mais vende
ao mês é o fumo de corda, chegando a ser vendido até 60 kg ao mês. O fumo
picado vende em média 50kg e 300 kg de erva mate nativa. “Quem é acostumado
como fumo crioulo não larga do crioulo”, salienta. Ele ressalta que os
consumidores da região buscam os produtos todos os meses. “O pessoal jovem não
tem essa tradição, é normal que um dia isso caia, mas por enquanto tem
mercado”, reforça.